22/10/2008

Por que o dólar sobe? Vai continuar subindo?

por Tiago Stachetti Batoni
Os mercados financeiros ao redor do mundo vivem momentos de grande instabilidade. Os investidores desconfiam da saúde financeira das organizações, vendem ações e buscam proteger o capital em investimentos e mercados considerados historicamente mais seguros. Estas são as principais causas da valorização do dólar frente ao real. Desde o dia de agosto, quando iniciou a tendência de alta, a moeda americana valorizou-se 54%, saltando de R$ 1,55 para R$ 2,39 em apenas 68 dias.
Para a economista Maryse Farhi, professora do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), não se pode ainda prever até onde chegará a valorização da moeda americana, pois esta resposta está ligada à extensão da crise mundial, ainda difícil de ser mensurada. “A grande dificuldade no momento é aquilatar a profundidade desta crise econômica internacional”, diz. “O impacto sobre o Brasil será determinado por essa dimensão. Se muito profunda ou prolongada serão percebidas quedas nas exportações e fuga de capitais do país em busca de segurança.” E o resultado desse cenário levaria, segundo ela, a uma maior depreciação do real.
O pânico no mercado internacional foi iniciado após a divulgação de grandes perdas em carteiras de financiamento imobiliário nos Estados Unidos, e a conjuntura atual já pode ser considerada a maior ameaça enfrentada pelo sistema capitalista desde 1929. Para se ter uma idéia, o índice Dow Jones - principal indicador acionário dos Estados Unidos - registrou no dia 29 de setembro a maior queda da história: 777 pontos, mais do que os 684 pontos perdidos após o ataque às torres gêmeas em 2001.
Apesar de recentes declarações do presidente Lula afirmando que o Brasil estaria blindado contra os efeitos da crise, o economista André Biancareli acredita que em uma economia globalizada é impossível que qualquer país coloque-se à margem de uma situação como essa. Segundo ele, há uma inversão no cenário observado há alguns meses. “O mercado internacional, que vinha em um ciclo muito positivo, desaqueceu completamente”, diz. “O preço das commodities está em queda e isso afeta diretamente as exportações e a taxa de câmbio no Brasil. Não é exagero afirmar que a crise colocou o dólar em um novo patamar frente ao real.”
Maryse Farhi concorda que é impossível o Brasil não sofrer com os efeitos da crise, mas acrescenta que, apesar das instabilidades, o país está muito mais preparado para enfrentá-la do que estava havia alguns anos. “Parte das precauções necessárias para amenizar os efeitos de uma crise internacional foram tomadas com o forte aumento das reservas em divisas, e isso garante certa tranqüilidade”, afirma Maryse. “Mas a melhor vacina continua sendo o incentivo a uma sólida demanda interna que garanta a continuidade do crescimento econômico mesmo diante de um cenário internacional adverso.”

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